sábado, 16 de novembro de 2013

A HISTÓRIA DOS MEUS FRACASSOS

Ao longo da vida fiz muitas coisas para sobreviver que eu achava que me definiam: fui auxiliar administrativo de duas prefeituras, fui auxiliar de escritório de contabilidade, fui devorador de livros e gibis e de coisas escritas que nunca entendi bem, nem mesmo li até o fim, fui futebolista amador, fui estudante relapso, fui escrevedor de cartas sob encomenda, fui fazedor de planos que não foram executados, fui ghost writer, fui servidor do Fisco, fui contabilista, fui doente, paciente e impaciente, fui trabalhador braçal em lavouras, fui consultor de apuração do lucro real de atividades imobiliárias, fui fazedor de declarações do Imposto de Renda de Pessoas Físicas, fui assessor de muitos dirigentes que nunca me ouviram, fui militante indeciso do partido comunista, fui candidato derrotado a vereador, fui executivo por um tempo curtíssimo, o mais rápido fracasso que já reconheci, fui desenvolvedor de projetos que nunca deram resultados, fui religioso, fui socialista, pai, irmão, amigo, marido e namorado. Recentemente me identifiquei até com o pessoal da dança. Em tudo eu fracassei. Vi meus trabalhos, crenças e iniciativas falharem cabalmente. Aos cinquenta e seis anos me convenci de que eu era um fracasso total e resolvi viver desse amargo consolo de ser um fracassado. Fracassei nisso também, porque o mundo me empurra todo dia para fazer coisas. Então finalmente eu vi que havia algo diferente em mim em relação à maioria daqueles que me cercavam e que não tinham sucumbido completamente à depressão: todos acreditavam mais do que eu em alguma coisa. E descobri meu maior talento: mudar de ideias, abandonar crenças e começar de novo. Tornei-me então consultor de inovações e de pensamento estratégico, algo pomposo que justifica bem os honorários. Afinal, trata-se de constatar o óbvio: nada ensina mais a mudar do que o reconhecimento do fracasso. Desde então ganho a vida aconselhando as pessoas sobre o que fazer para reconhecer o que está errado, abandonar práticas e crenças superadas e abraçar a mudança. Tenho fracassado nisso, é claro, mas agora me sinto bem melhor. Sou um otimista incorrigível.

Um comentário:

  1. Ah, Zé! Que delícia te ler nesse sábado amargo de frustrações.
    Tô contigo e não abro no otimismo incorrigível :)

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